Dezenas de produtores associados à Acripileite (Associação dos Criadores de Gado Leiteiro e Produtores de Leite de Alegrete) bloquearam o acesso ao posto de recebimento da BRF Brasil Foods, próximo à BR 290, em repúdio à práticas da empresa em relação às condições de negociação impostas aos produtores de Alegrete e região. A ação aconteceu na manhã desta terça-feira com a participação de associados, imprensa, órgãos de extensão, secretário de Agricultura e Pecuária Márcio Amaral e do prefeito Erasmo Guterres Silva.

Segundo a presidente da Acripileite, Sueli Macedo, a principal razão para a manifestação foi a informação de que os produtores passarão a receber 10 centavos a menos no valor do litro de leite já recolhido pelos caminhões da empresa no mês em curso, sem uma negociação prévia. “Não podemos aceitar que o produto, em época de entressafra, saia da propriedade sem que saibamos quanto será pago por ele”, afirma a presidente. Para os produtores, o fato da BRF Brasil Foods ser a única indústria de laticínios da região dificulta o desenvolvimento da atividade leiteira: “queremos buscar alternativas de distribuição para não ficarmos reféns de uma empresa que impõe”, completa.

A Acripileite representa mais de 120 propriedades no município de Alegrete, com uma produção diária de 22 mil litros. A Prefeitura de Alegrete, através da Secretaria de Agricultura e Pecuária, apóia a iniciativa dos produtores, por ver na atividade leiteira, ainda incipiente no município, um potencial latente de crescimento e ampliação da matriz produtiva. Na ocasião,  foi entregue pelos produtores um manifesto para representantes da indústria BRF Brasil.

MANIFESTO DE REPÚDIO DOS CRIADORES DE GADO LEITEIRO E PRODUTORES DE LEITE DE ALEGRETE CONTRA AS CONDIÇÕES NEGOCIAIS IMPOSTAS PELA INDÚSTRIA RECEPTORA DO LEITE PRODUZIDO EM ALEGRETE E REGIÃO  

É imperativo que as comunidades de todos os Municípios da região da Fronteira-Oeste do Rio Grande do Sul saibam que enquanto as políticas públicas são massivamente dirigidas ao setor produtivo do leite com o fim de aumentar nossa bacia leiteira e, ao mesmo tempo, mudar a matriz produtiva da região e fazer do nosso Estado o maior produtor de leite do país, as empresas compradoras do nosso produto – em Alegrete e Manoel Viana é a BRF Brasil Foods, que trabalha com as marcas PERDIGÃO, ELEGÊ e BATAVO – dispensam a nós Produtores de Leite um tratamento nada comercial, tremendamente primário e, porque não dizer, desrespeitoso à lei e aos bons costumes .

Dizemos “nada comercial”, porque não temos a mínima atenção e destinação de espaço pela empresa para, no conjunto dos produtores/entregadores de leite, discutirmos a relação comercial que nos une . Há propriedades produtoras de leite que só recebem da empresa a visita do caminhão/coletor do produto e nada mais .

De outro lado, quando dizemos que o tratamento é “tremendamente primário” é porque sentimos falta da mínima assistência técnica por parte da empresa, de forma direta, na casa de cada produtor, já que somos uma cadeia em formação nesta região .

Por fim, quando dizemos “desrespeitoso à lei e aos bons costumes” é porque entregamos para a empresa o nosso produto durante todo o mês em curso e só vamos saber o seu preço no dia quinze do mês seguinte, quando vamos recebê-lo . Convenhamos, desde os Fenícios, povo que deu início ao comércio, não temos conhecimento de qualquer bem vendido sem que se saiba o seu preço antes da venda e, pior ainda, que este preço seja imposto pela empresa compradora .

Isto, em Direito do Consumidor, não é ser fornecedor nem consumidor . Em verdade, isto é a figura do refém em Direito  Penal; isto é ser a floresta em relação ao madeireiro em Direito Ambiental; isto é ser um prisioneiro sem condenação, vedado pelo Direito Constitucional; enfim, isto é imoral!

E o pior : nós Produtores de Leite somos vítima de tratamento desigual, que sem qualquer critério pré-estabelecido remunera uns com um preço e outros com preço diferenciado.

Além disso, o preço praticado ao nosso produto pela empresa ignora a mais antiga lei de ciência econômica : a Lei da Oferta e da Procura .  Agora, já iniciando o inverno, mas sem que se iniciasse a “safra”, pois as pastagens são tardias em função do clima que nos foi adverso durante o plantio, exatamente no momento em que as populações começam a consumir mais leite, os rumores são fortíssimos de que o preço, sem nenhum aviso prévio, baixará em torno de R$ 0,06 a R$ 0,10.

Ora, no mesmo instante em que se tem menor oferta de leite e mais procura do produto é que o preço vai baixar, mas vai baixar ao produtor e não ao consumidor .

Alguém tem notícia que o leite baixou ou vai baixar no Supermercado ?

Por fim, é preciso que a população saiba que as amostras do produto, apanhadas em cada propriedade no momento da coleta do leite, são remetidas para Laboratório de Análises Clínicas que não nos justifica os resultados e, muitas vezes, sequer nos repassa os dados . Por muitos meses não recebemos os resultados das análises . Ora, como poderá uma empresa remunerar o produto pela qualidade se os resultados não são criteriosos e causam desconfiança ?

PORTANTO, queremos CONVOCAR toda a população e o conjunto dos Produtores de Leite que ainda insistem em continuar produzindo para nos unirmos cada vez mais e REPUDIARMOS A TUDO ISTO .

Vamos marcar posição :

*não aceitamos mais que o leite saia das propriedades sem sabermos previamente o seu preço;
*não aceitamos fixação de preço desigual, sem se estabelecer qualquer critério de diferenciação;
*não aceitamos mais a falta de tratamento comercial da empresa PERDIGÃO;
*não aceitamos mais a falta de Assistência Técnica e solidarismo da BRF Brasil Foods nos nossos empreendimentos;
*não aceitamos qualquer redução do preço do leite enquanto os insumos, salários, produtos veterinários e etc continuam a subir para o produtor e o leite, para o Consumidor, não tem redução.

PARA ISTO PRECISAMOS ESTAR UNIDOS PARA ENCONTRARMOS AS ALTERNATIVAS QUE SERVEM A TODA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE E TAMBÉM À POPULAÇÃO CONSUMIDORA.


Texto produzido e de responsabilidade da ACRIPLEITE – Associação dos Criadores de Gado Leiteiro e Produtora de Leite de Alegrete